domingo, 21 de abril de 2019

A IMPORTÂNCIA DO PENSAMENTO TAOÍSTA NAS ARTES TERAPÊUTICAS CHINESAS

Uma regressão aos fundamentos originais da filosofia e da medicina tradicional da China

Tenho visto com grande frequência, e de forma cada vez mais crescente, estudantes e entusiastas das milenares artes terapêuticas chinesas com uma sede por conhecimento demasiadamente equivocada – há uma pressa pelo conhecimento prático em detrimento do aprofundamento no aprendizado teórico, e pela vital compreensão do pensamento filosófico que simplesmente fundamenta estas artes terapêuticas.

A regressão aos fundamentos originais da filosofia e da medicina tradicional da China se torna essencial para que tais artes terapêuticas se tornem, de fato, aplicáveis e para que surtam os tão esperados - e maravilhosos - resultados.

Há também, infelizmente, pessoas que se propõem ao aprendizado destas terapias mas sem o comprometimento e a dedicação tão necessárias para tal, e pior, de maneira soberba, acabam por se afogar no próprio ego quando alcançam qualquer logro ou status no meio terapêutico. Se esquecem do próprio pensamento Taoísta que defende a busca pelo aprimoramento através da humildade – estas pessoas se esquecem também que nós terapeutas somos um elo de ligação e um instrumento do Universo para o equilíbrio e o bem-estar de nossos pacientes.

O pensamento Taoísta nas artes terapêuticas chinesas é de primordial importância. Uma das características mais notáveis dessa base filosófica é justamente a de ser profundamente marcada pela noção de eficácia através de sua simplicidade. Os elementos essenciais da filosofia e da medicina tradicional chinesa como o qi, o Tao, yin e yang, jing e shen, por exemplo, são repletos de uma poderosa eficiência realizadora, que norteiam a conduta e facilitam o crescimento. Sem a profunda compreensão destes fundamentos a conduta pode se tornar, na melhor da hipóteses, uma execução mecânica de protocolos pré-estabelecidos e decorados.

A filosofia-em-ação da medicina chinesa é orientada pela perspectiva arquetípica dos princípios perenes que governam o Céu, os quais são perenes pois estão imunes aos desgastes provocados pelo tempo.

Na tradição médica chinesa tais princípios resultam em leis terapêuticas de importância definitiva no trabalho clínico. Mas, se engana quem tenta confina-los aos limites do consultório; se assim o fizermos, poderemos até nos tornarmos bons acupunturistas e terapeutas em geral, mas sem a “intenção na ponta da agulha”, jamais poderemos nos tornar pessoas melhores e estreitar o elo de ligação com o Universo para o nosso bem e o de nossos irmãos-pacientes.

Em suma, importar filosofias e práticas de civilizações milenares e distantes no espaço e no tempo sem incorporar os fundamentos que lhes dão origem é apenas uma maneira de mudar a forma de se repetir em repetições vazias, decoradas e pior – egocêntricas.

Para encerrar, deixo-vos o poema número 67 do TAO TE CHING, uma das mais importantes obras literárias-filosóficas da Humanidade e base do Taoísmo filosófico.

As três coisas preciosas

Dizem os homens que eu sou grande, 
Como se eu fosse algo especial. 
Grande só é quem nada se importa 
Com sua grandeza.
Quem deseja ser grande perante os outros, 
Esse é pequeno. 
Três palavras me são sagradas: 
A primeira é bondade, 
A segunda, suficiência, 
A terceira, modéstia. 
A bondade dá força, 
A suficiência alarga a estreiteza, 
A modéstia faz do homem um veículo 
Para a atuação das forças eternas. 
 Hoje em dia não é assim. 
O homem não conhece mais bondade, 
E, ainda assim, se julga forte. 
Não tem mais suficiência, 
Só reclama seus direitos; 
Ninguém sabe ser modesto, 
Mas só pensa em sucesso. 
E isto conduz à ruína. 
Quem é realmente bom 
Vence na luta 
Porque é invencível. 
Quando o inimigo avança, 
Esse homem é amparado pelo Céu.


Lao Zi (老子), literalmente "Velho Mestre" foi um filósofo e escritor da Antiga China. É conhecido por ser o autor do importante livro Tao Te Ching, “o livro que revela Deus”, o fundador do taoismo filosófico e uma divindade no taoismo religioso e nas religiões tradicionais chinesas.


Abraços fraternais,

RAFÅTÍS


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