quarta-feira, 4 de setembro de 2019

SOBRE O PROJETO DE LEI 1549/2003 E O ABSURDO “ATO MÉDICO”

O Absurdo "ato médico" e a prática da milenar medicina chinesa: reflexões.


Tramitando há quase dezessete anos, o projeto de lei que disciplina o exercício profissional de Acupuntura (nº 1549/2003) apresenta a cada ano novos desdobramentos. Enquanto por um lado o insólito discurso da classe médica pelo paradoxal “ato médico”, imbuído de toda sorte de interesses, angaria mais profissionais que sequer atuam com práticas medicinais milenares – as quais nada se assemelham com a medicina ocidental alopática – a falta de respaldo jurídico para os profissionais que atuam com Acupuntura parece abrir ainda mais o abismo entre diferentes práticas terapêuticas no sentido “A inclusione unius ad exclusionem alterius” (da inclusão de um à exclusão do outro), no qual os maiores prejudicados são justamente os que a prática medicinal – seja ela qual for – prioriza: os pacientes.

A medicina tradicional chinesa e a acupuntura têm uma história milenar na China. Foram acumuladas as ricas experiências clínicas e formou-se sua própria sistematização teórica completamente independente da medicina ocidental alopática. O aprofundamento nesta vasta ciência milenar não exclui objetivamente sua base filosófica - uma das características mais notáveis dessa base filosófica é justamente a de ser profundamente marcada pela noção de eficácia através de sua simplicidade. Os elementos essenciais da filosofia e da medicina tradicional chinesa são repletos de uma poderosa eficiência realizadora, que norteiam a conduta de seu praticante. Sem a profunda compreensão destes fundamentos a conduta pode se tornar, na melhor da hipóteses, uma execução mecânica de protocolos pré-estabelecidos e decorados.

Nem no modelo diagnóstico ou na prática clínica, tampouco na conduta a medicina tradicional da China se assemelha com a medicina ocidental.

Em suma, importar filosofias e práticas medicinais de civilizações milenares e distantes no espaço e no tempo sem incorporar os fundamentos que lhes dão origem é apenas uma maneira de mudar a forma de se repetir em repetições vazias, decoradas, egocêntricas, e ainda pior, centralizar o ensinamento e a prática de tais conhecimentos à um grupo específico de pessoas à “Animus domini” (com a intenção de ser dono) é deplorável, incongruente e tétrico – de tal maneira, todos temos à perder.

Bom senso é sempre bom - senso.

Abraços fraternais, 

Rafåtís

Deixo-vos em anexo:

- Carta da Embaixada da República Popular da China para o Ministério da Saúde

- Poema número 67 do TAO TE CHING, uma das mais importantes obras literárias-filosóficas da Humanidade e base do Taoísmo filosófico.

As três coisas preciosas

Dizem os homens que eu sou grande,
Como se eu fosse algo especial.
Grande só é quem nada se importa
Com sua grandeza.
Quem deseja ser grande perante os outros,
Esse é pequeno.
Três palavras me são sagradas:
A primeira é bondade,
A segunda, suficiência,
A terceira, modéstia.
A bondade dá força,
A suficiência alarga a estreiteza,
A modéstia faz do homem um veículo
Para a atuação das forças eternas.
Hoje em dia não é assim.
O homem não conhece mais bondade,
E, ainda assim, se julga forte.
Não tem mais suficiência,
Só reclama seus direitos;
Ninguém sabe ser modesto,
Mas só pensa em sucesso.
E isto conduz à ruína.
Quem é realmente bom
Vence na luta
Porque é invencível.
Quando o inimigo avança,
Esse homem é amparado pelo Céu.

 Lao Zi (老子), literalmente "Velho Mestre" foi um filósofo e escritor da Antiga China. É conhecido por ser o autor do importante livro Tao Te Ching, “o livro que revela Deus”, o fundador do taoismo filosófico e uma divindade no taoismo religioso e nas religiões tradicionais chinesas